segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Diário de um Voluntário

11 de Julho, chegada a Guiné Bissau.

Recepção com chuva e gritos de alegria que inundaram o aeroporto, de quem à muito não via os seus familiares e que pela dureza da vida, os seus caminhos se separaram.
Já com as malas e na companhia do Dr. Olívio Pereira, representante do governo, as ruas de Bissau percorremos, tentando absorver toda aquela energia.
As crianças na rua, fruta, tentavam vender, “mango, mango”, gritavam.
De Bissau a Cacheu, o nosso destino, uma única estrada percorremos, a toda a velocidade, íamos rasgando a maravilhosa paisagem, observando as várias aldeias que ficavam para trás.
Fomos obrigados a parar de vez em quando, cedendo passagem aos animais, que se atravessavam no nosso caminho, pouco se importando com a nossa presença, estavam no seu direito, temos de admitir!
Chegamos finalmente a Cacheu, onde rapidamente fomos envolvidos pelo seu rio, as crianças e todas as pessoas que íamos conhecendo.
No final de semana visitamos S. Domingos de barco e Cachungo de candonga, que tentando traduzir para português, significa “todos a molho e fé em Deus”.
Já na 2ª feira, demos inicio aos trabalhos com as crianças, que apesar do um começo caótico, rapidamente conseguimos encontrar um método de trabalho, e tentar trabalhar com mais de 100 crianças por dia, de várias idades.
Aos poucos os nossos dias iam fluindo com naturalidade e grande receptividade por parte das crianças.
Tendo em conta as circunstancias, fomos obrigados a fazer alguns ajustamentos ao nosso programa.
O lixo foi uma das grandes preocupações, uma vez que as ruas estavam muito sujas.
Iniciamos actividades de recolha de lixo pelas ruas e organizamos uma pequena manifestação com o lema: “cabu vota lixo na chaum”, ou seja “não deitar lixo no chão”, sim, porque o crioulo foi uma constante nesta experiencia, sendo que, uma das maiores dificuldades foi o português, isto num país de língua oficial portuguesa, onde apenas 2% da população fala o português.
Depois de uma semana intensiva de trabalho, nada melhor, que rumar a Bissau, a caminho das Ilhas de Bubaque.
Foram quatro longas horas de viagem de barco, mas a paisagem vale sempre a pena na Guine.
A acomodação foi de “5 estrelas”, e pela primeira vez numa semana, tivemos agua directamente da torneira, um luxo!!!
Na viagem de regresso no barco, tivemos uma grande surpresa, apesar de acharmos naquele momento, que ja tínhamos visto tudo que seria possível imaginar na Guine, mas estávamos enganados, alguém entrou em trabalho de parto, e de repente, so se ouvia dizer: “É preciso um médico, uma enfermeira, uma toalha, álcool...”
E numa questão de minutos, mobilizou-se uma corrente de solidariedade, permitindo que aquela criança viesse ao mundo, talvez com mais conforto, que muitas outras em toda a Guiné.
Foi incrível ver todas aquelas pessoas a procurarem nas suas malas, qualquer coisa que fosse útil naquele momento.
Como se costuma dizer, na Guine é preciso paciência, e esperança! Tudo se faz, mas a um ritmo muito especial!!!
Os nossos dias iam entrando numa rotina própria de quem já se adaptou á realidade.
Levantar bem cedo, porque o calor era muito, depois de uma noite, passada a lutar contra os mosquitos e o próprio mosquiteiro, fazer o caminho até ao centro de recursos a pé, mas nunca íamos sozinhos, porque rapidamente as crianças começavam a surgir de todos os lados, vindo ao nosso encontro, para mais um dia intensivo de trabalho, mas o carinho daquelas crianças compensava tudo.
Os finais de tarde, foram para nós como o maior dos nossos prazeres, é que depois de quase desidratarmos de tanta humidade, nada melhor que um banho chuva!
Foi uma experiencia inesquecível, e uma experiencia a repetir, pois a Guine é uma país que precisa do apoio de todos nós, e que ao contrario do que se possa pensar, não é preciso muito, para ajudarmos!

Luísa Correia, Voluntária da ACGB